antes que a gente envelheça

Se eu aprender
ouvindo
o que já conversamos por olhar
o que já cansou de não ser dito.

Se eu aprender antes que seja muito tarde
antes da hora de dormir
pra não somar espaço na cama
para não sentir sozinho um dormir e acordar, junto.

se eu aprender antes daquele dia
o dia em que a gente se prometeu
que a gente disse que queria a vida toda para nós
– e o tempo parou.

Se eu aprender.

Te peço que me perdoe se for tarde demais
para aquele papo que adiei
por falar das coisas outras
mas então se não for tarde demais
e o tempo não desgastou
a visão, a audição e o coração
veja e entenda
por todo esse tempo, eu estive tentando.

entenda

entenda-me
não é tristeza
é a minha tristeza
é da minha natureza
que é o bater de mim

é o meu peso
sobre o peso da vida
o peso que só carrego
peso que só eu carrego
que me distância de ti
que é uma chance de aproximação

e então a minha liberdade de sentir
é o que eu tenho
é o que eu não resisto
é o que peço
é o que nos salva.

A falta de, me incomoda. Prefiro agir pelo exagero.
Então opera em mim o dom de preencher espaços; de tudo que está, e agora estava:
Vazio, Em Branco ou em Silêncio.

seca

Ela estava um pouco seca. Seca de amar, seca do amor. Ali onde corria antes, pouco antes, a pura água sagrada do amor, agora se encontrava apenas terreno árido, seco e vazio. E nada crescia, nada se pronunciava. Mas, ela, sentia o secor, sentia desidratar. E como mera observadora, apenas testemunhava aquilo tudo com tristeza, de quem vê um jardim morto, onde antes já houvera tanta flor e, cor. Ela estava triste.

óculos

Ao franzir a testa, ela testemunhava o próprio nó da garganta contrair e pedir alivio.
Queria sair da dor e liberar aquele musculo. E por ultimo, nao queria aquela ruga incomoda e óbvia ali: a marca fincada na testa - talhada vinco a vinco, para lembrar sempre dos dias em que foi fraca e se rendeu
mais uma vez a amargura, ou de apenas quando esquecera os oculos.
E os dois são tao burros. Os oculos e a amargura.

você pra mim sou eu;

...E ela se perguntava ali sentada: Quem é você?
Bom, você é você. E quem é você pra mim?
Tinha que questionar. Eu sou o seu pior e o seu melhor.
Menos mal.

uma vez

O que está acontecendo - pensava ela. Tudo isso de ser , e estar, ali, parecia tão comum, mas ali, agora, o comum também estava fora do lugar e encomodava.
Pensar em viver, conviver, precisar existir era pesado; não encontrava ar, nem espaço para esse fardo.
Sim pois agora tudo isso significava apenas isto, um fardo.
Um fardo, grande, escuro, ácido, áspero e conturbado.
Ah, a vida um dia fora simples. Mas tudo isso voltaria a ser. Era de se esperar.